
Barbosa Lessa: pioneiro na transformação do Majestic na Casa de Cultura Mario Quintana
A história da criação da Casa de Cultura Mario Quintana costuma ignorar um personagem importante da cultura brasileira que foi o primeiro a ver no prédio decadente e sujeito à demolição do Hotel Majestic uma sede para a instalação do que ele chamava de “centro oficial de cultura acadêmica”. A intenção deste pesquisador da história do Rio Grande do Sul, escritor e compositor, era abrigar no prédio devidamente reformado os órgãos culturais ligados ao Estado.
Naquele início da década de 80, Barbosa era secretário de Cultura, Desporto e Turismo do governo gaúcho. O então governador José Augusto Amaral de Souza foi sensível aos planos do titular da pasta sobre o uso cultural do edifício com sua cessão para uso público e aceitou sua demanda de comprar o Majestic. Isso foi feito através do Banrisul no ano de 1980. Dois anos depois, o Majestic seria transferido para o Governo do Estado.
Em 1981, um grupo de integrantes das áreas de arquitetura, artes plásticas, fotografia, magistério, jornalismo, literatura, cinema e teatro de Porto Alegre formou o MGDC (Movimento Gaúcho pelo Desenvolvimento da Cultura), que reivindicava voz ativa das entidades por ele representadas junto ao governo. Seus integrantes queriam que isso fosse feito através de suas indicações levadas ao Codec (Conselho Estadual do Desenvolvimento Cultural) e a outros órgãos ligados à Secretaria. Faziam parte do grupo Celso Loureiro Chavez, Evelyn Berg, Adolfo Gerchmann, Zorávia Bettiol, Luiz Antonio de Assis Brasil, Lauro Haggeman e Paixão Cortes. Este grupo também se aliou a Barbosa para o uso cultural do Majestic.
O processo de tombamento começou em dezembro de 1982 mas só foi efetivado com sua publicação no Diário Oficial . Arrolado como Patrimônio Histórico, o edifício já passou à condição de espaço cultural em setembro de 1985. As primerias reformas do prédio, que visavam a uma ocupação parcial, começaram em 1982 e no ano seguinte, em 8 de março, com a exposição e aquarelas de desenhos de Herman Rudolf Wendorth, a o centro cultural acalentado por Barbosa Lessa foi inaugurado com por Amaral de Souza. Entre os convidados presentes estava o príncipe Gastão de Orléans e Bragança.
Alguns meses mais tarde, pela Lei Nº 7.803, de 8 de julho, o novo governador Jair Soares, atendendo projeto de lei do então deputado Ruy Carlos Ostermann, deu ao antigo Hotel Majestic o nome Casa de Cultura Mario Quintana. De 1983 até 1987 a casa se manteve fica aberta ao público. Funcionavam ali discoteca, biblioteca e cinema. Mas a situação do prédio determinou uma restauração maior do que a feita sob a gestão de Barbosa Lessa e, em 1987 a casa foi fechada para obras de adaptação das dependências à sua função. Renovada em todos os seus espaços, a CCMQ ganhou nova inauguração em 1990.
Em 1987, o romancista, contista, dramaturgo, compositor, jornalista, radialista, pesquisador de folclore e de história, roteirista de quadrinhos, executivo de teatro, cinema e televisão, dirigente cultural e patrono da Feira do Livro, se aposentou e foi para Camaquã, com sua esposa Nilza. Se instalou numa terra cheia de cachoeiras, na Serra do Herval, em uma pequena reserva ecológica a que deu o nome de Sítio Água Grande. Ali, continuou escrevendo e trabalhando artesanalmente com erva-mate e plantas medicinais .
Mais alguns dados sobre a vida de Barbosa Lessa
Nasceu em 13 de dezembro de 1929, numa chácara nas imediações da histórica vila de Piratini e aprendeu com a mãe as primeiras letras, as quatro operações, teoria musical, um pouco de piano e a novidade na época chamada datilografia. Em Pelotas, onde estudou no ginásio Ginásio Gonzaga, fundou, aos 12 anos, o jornal escolar O Gonzagueano, em que publicou seus primeiros contos regionais ou de fundo histórico. Também criou o conjunto musical Os Minuanos, que deveria ter repertório de música regional gaúcha mas por falta do que cantar no gênero, teve de passar para o estilo sertanejo e de música urbana brasileira.
Já instalado em Porto Alegre, conheceu Paixão Côrtes, seu colega no Colégio Júlio de Castilhos, e veio a fundar o primeiro CTG do Estado, o 35. Aos 16 anos, já colaborava para uma das principais revistas brasileiras de cultura (Província de São Pedro) e obteve seu primeiro emprego como revisor e repórter da Revista do Globo. Mais tarde, escreveria as primeiras composições regionalistas, entre elas Negrinho do Pastoreio e Quero-Quero.
Em 1952, formou-se advogado, já pesquisador atento de manifestações culturais rio-grandenses. Foi para São Paulo onde viveu durante 20 anos. Voltou a Porto Alegre em 1974, já como especialista em Comunicação Social. Fato curioso de sua estada na capital paulista foi ter encontrado, na companhia de cinema Vera Cruz, o diretor Adolfo Celi e o roteirista Walter George Durst, que trabalhavam no planejamento do filme Ana Terra. Foi então contratado como consultor de costumes, para prestar assessoria desde o roteiro até a filmagem. Integrando a equipe de Celi, acompanhou a equipe até Cruz Alta, onde apontou os cenários mais autênticos para a locação do filme, que deveria ser estrelado por Tônia Carrero no papel de Ana Terra. O filme terminou não saindo.
Morreu em 11 de março de 2002. Foi enterrado em Piratini.