Histórias do Majestic relembradas pela bisneta de seu criador Horácio de Carvalho

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Memórias herdadas da mãe, Maria Camargo Porcello, que brincava dentro do apartamento que Horário de Carvalho mantinha no seu Hotel Majestic, para nao incomodar os hóspedes dos 300 quartos.  A chegada das décadas em que hotéis mais modernos determinaram o fim de uma era de sucesso dos estabelecimentos criados numa Porto Alegre romântica, em que os viajantes chegavam ao Majestic descendo diretamente do ancoradouro próximo, quase atrás do prédio. Os hóspedes famosos, a dura decisão familiar de se desfazer do edifício, a alegria de vê-lo transformado em uma casa de cultura. Suzana Schilling, bisneta de Horácio de Carvalho, o dono do hotel, conta parte desta saga nesta entrevista.

Associação dos Amigos da Casa de Cultura Mario Quintana-  Você é bisneta de Horário de Carvalho, o empresário que mandou construir o palacete de projeto mais inovador de Porto Alegre ao ser ligado por passarelas suspensas, e que se transformaria depois em Hotel Majestic. Quais histórias que você lembra, contadas por sua mãe, sobre a vida neste hotel?

Suzana Schilling -Minha mãe perdeu seu pai quando tinha 2 anos e meio. A partir de então, ela passou a morar com a mãe, Edith Carvalho Camargo e a irmã recém-nascida, no 4º  andar do Hotel Majestic juntamente com os avós Horácio e Leocádia . A família ocupava um dos quatro apartamentos particulares na galeria da Travessa Araújo Ribeiro (hoje Rua dos Cataventos). Pelo fato de ser um grande hotel com muitos hóspedes, não lhe era permitido correr ou brincar pelos corredores. As brincadeiras normalmente com bonecas, eram dentro do apartamento. Havia um preocupação muito grande em que ela não se pendurasse nas sacadas em suas brincadeiras. Isso fez com que meu bisavó e a família se mudassem para uma casa na Rua Barão de Santo Angelo e, mais tarde, para um apartamento no Edifício Imperial em frente à Praça da Alfândega. Entre 1935 e 1936, com a avó Leocádia, doente, a família retorna ao Hotel Majestic. Em 9 de novembro de 1938, o avô Horácio falece e a família permanece residindo no hotel até 1939, quando todos se mudam para uma casa na Av. Independência e ,após, em 1940, para um apartamento no Edifício Sul América

Minha mãe, Maria Camargo Porcello, tem muito claras em sua mente as brincadeiras de bonecas e de roda com as amiguinhas que iam visitá-la no apartamento em que moravam no Hotel Majestic. Recorda também do magnífico banquete oferecido por seu avô nas dependências do Majestic, por ocasião do centenário da Revolução Farroupilha, em 1835.

AACCMQ- Como você e sua família viram as mudanças internas efetuadas nos anos 80 no edifício? Qual a reação da famíla ao saber que ali seria um centro cultural?

SS – Quando crianças, nós acompanhávamos a conversa dos adultos em relação à conservação e manutenção do prédio do porte que é o Hotel Majestic. A medida que o tempo foi passando, pelo falecimento de minha avó e meus tios, pelo hercúleo esforço em manter o prédio, pelas dificuldades de locação, a ideia de vendê-lo se tornou uma opção concreta. Foi com pesar que a família se desfez do patrimônio construído pelo visionário empreendedor Horácio Carvalho, mas com a certeza de que era o mais acertado no momento. Ao vender o edifício para o Estado do Rio Grande do Sul e ao ter notícias de que aquele belo prédio seria um Centro Cultural, a sensação de perda foi minimizada.Um novo futuro e um novo destino se desvendavam.

AACCMQ– Atualmente, o prédio passa por mais um restauro. Durante sua vida como hotel, este edifício precisou de algum grande reparo?

 SS – Um prédio construído em 1933, com suas grandes arcadas, terraços, sacadas e colunas em um projeto do arquiteto alemão Theodor Alexander Josef Wiedersphan, e que abrigou personalidades como o presidente Getúlio Vargas, a vedete Virgínia Lane, o artista Francisco Alves e mais tarde o querido poeta Mario Quintana, necessitava de manutenção constante. Com o surgimento de hotéis mais modernos, nas décadas de 1950 e 1960, além de outros fatores econômicos e sociais, dos 300 quartos iniciais, apenas 100 continuavam funcionando. A estrutura tinha que ser mantida, mas não me lembro de uma grande reforma estrutural ou arquitetônica anterior à venda do hotel, apenas reparos de manutenção.

AACCMQ – Quais suas sugestões a respeito do uso da edificação como centro de cultura no que diz respeito à programação,a uma maior visibilidade no Centro Histórico da cidade?

 SS – O prédio é um patrimônio da cidade e como tal deve ser mantido. Seus espaços ocupados e sua vitalidade preservada. Com certeza, no meio cultural, opinar sobre o destino ou finalidade desse espaço público mobilizaria muitas pessoas. Quem sabe promover um concurso com projetos arquitetônicos que priorizassem diversas atividades culturais? Mobilizar a sociedade, envolver as pessoas poderia ajudar a revitalizar a Casa de Cultura. Tania Carvalho recentemente propôs uma campanha em prol da revitalização da Travessa Araújo Ribeiro, ilustrando sua ideia com a a Rue de l’Ancienne Comédie, em Paris, onde se encontra o restaurante Le Procope, talvez o mais antigo do mundo, e que está situado em um local que muito lembra o nosso antigo Hotel Majestic.

AACCMQ – Como você vê a atuação e a importância da Associaçao dos Amigos da CCMQ?

 SS – Acho fundamental a atuação da sociedade civil no patrimônio cultural da cidade e a Associação dos Amigos da CCMQ faz esse papel de guardiã dos nossos valores há quase 30 anos. Executando projetos da Casa de Cultura, lutando por um orçamento maior do Estado para o setor da  cultura,  a Associação tem um papel indispensável e que deve ser reconhecido e apoiado pelo mérito de suas ações.

Maristela Bairros

Assessora de Imprensa

da Associação dos Amigos da Casa de Cultura Mario Quintana

 

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